Angola Escreve. Alguns grandes autores do romance ao conto

Autor

Leo Gilson Ribeiro

Resumo
Jornal da Tarde, 1981/08/04. Aguardando revisão.

Se já no plano puramente temático o romance constitui um gênero no qual sobressai, alta, a figura de José Luandino Vieira, o conto angolano também nos reserva surpresas compensadoras. O próprio José Luandino Vieira atribui essa designação de “estórias” a várias coletâneas suas: Luuanda, No Antigamente, na Vida, A Cidade e a Infância e Macanduba. Nesses contos longos, porém, a temática político-social cede à evocação de uma vida com episódios bucólicos, nostálgica e poeticamente evocados pelo autor. Há cenas dignas de comédia, com os mais velhos assumindo uma postura de incredulidade e depois de indignação diante dos acontecimentos que os livros transmitem nas escolas aos filhos:

“- Não adianta! Aldabrõe! Cambada de aldabrões! A terra anda? Queimem os livros, queimem os livros! 

Berrava. Os monandengues à volta assomavam de mão na boca. Se virava, então, professoral: 

  • Meus filhos, não aceitem! Não acreditem! São uns aldabrões. Se a terra anda, eu dou saltos, a minha casa vem me dar encontro..”

Com um raro talento narrativo, José Luandino Vieira faz desfilar uma Angola lânguida como a Bahia, ao lado de cenas de entrechoque racial latente e dificilmente oculto. O escritor parece ter uma afinidade à primeira vista insuspeitada com Guimarães Rosa, o Guimarães Rosa que unia neologismos a termos locais e arcaicos, principalmente em Grande Sertão: Veredas. A semelhança é evidente após a leitura deste texto, trecho de “Lá em Tetembuatubia”, incluído em No Antigamente, na Vida”:

“Apontou, branca pomba voando para o todo azulídeo ar, alarando a mão dele. E vimos as sete partidas do céu, girarem olhos nossos, misturar belezas.

Que era tudo o macio fogo sem chama em pós azulados do vento, cada vez polvilho de luz filtrada depois da meia tarde e as todas passaradas avoejantes, regresso no lar – os brancos jindeles silenciosos nas rotas corriqueiras do sul; os compactos guanguastros, nuvens de mentira, reviengas súbitas exactas, de virar cores de bando; e uma que é outra – a viuvinha-catembo com seu sozinho rabo enorme, flecha de escuridão, os todos os mais que até pico-rei, mania de única, se passaram duas a duas. Tudo em luminoso fundo de nuvens velhas, asas em campo de areai ardente – que, de lá, do ocaso dele, só berridava altas sombras das esferas da noite mais camuela de belezas”

Até daí a duas páginas, a interrogação de cunho filosófico que recorda as meditações do solilóquio de Riobaldo:

” – Ah – a gente que somos é de maior desconfusão, aula dele, Turito, “Que cada qual é dono de muitas almas – em simple bufo de nova vida usada, usada fica nos capinhos dos caminhos de antigamente… – Nave hexacolor, só arco-íris de Deus é superior dela… Só ouvia o frufruir do aroxigêneo, nos motores-alhetas, impacientes. Que era de multiplicados, nada de construção apressada, tudo motores ronronantes, sotavento e barlavento”,

Anteriormente:

” – Eles são nossos altarêgos. Zeca amigo! E se sorria, límpido. Porque a verdade do Turito era essa, futura: pessoa que vai vir um dia ocupar lugar de nosso tosco corpo materialesco, falam. Nós? Porcos lenços, só de guardar lugar no cego cinema do mundo. Ele que quem via via verdadeiras criaturas luminosas, a gente só as iluminadas figuras de mentira”

A adesão do autor a Angola levou-o a mudar de nome: José Vieira Mateus da Graça transformou-se m José Luandino Vieira. Encarregado pelos ocupantes portugueses de servir como primeiro-cabo “para tomar conta de livros (na Biblioteca do Quartel-General de Luanda). O Exército colonial não tinha realmente a vocação da leitura e eu passava os meus dias do seguinte modo: de manhã, com qualquer desculpa, ia para a praia (depois de içar a bandeira portuguesa, que era o trabalho do cabo da Biblioteca); sétimo ano do Liceu que nessa altura, estudava”por fora” com o Antônio Cardoso e o Hélder Neto. Estudávamos todas as disciplinas do 7º ano de Letras: Todas: Latim, Grego e Alemão e Inglês e Francês e não sei mais o quê, parece que OPAN – Organização Política e Administrativa da Nação”…

A política cultural ou apenas educacional do regime colonial português com relação a Angola era ambígua. Se por um lado havia a já em seu próprio título arcaica “Casa dos Estudantes do Império”, onde se procurava peneirar os “valores novos” de uma assim chamada “aristocracia africana” (?), por outro a Pide, polícia secreta salazarista, impunha uma censura férrea e lançava mão de delatores, informantes que denunciavam a suposta tendenciosidade de poemas, artigos, ensaios, contos, conferências, romances, leituras importadas de Neruda, de editoriais hispano-americanos, de textos de marxismo. Só com a sonolenta prosa de Manoel Ferreira, relatando um pouco da biografia de José Luandino Vieira, no prefácio alambicado e longo que escreveu para A Cidade e a Infância é que se vem a saber, inopinadamente, que José Luandino Vieira, com seu tomo Luuanda recebera, em 1965, o Grande Prêmio de Novelística, conferido pelo júri da Sociedade Portuguesa de Escritores. Para que se possa aquilatar não só o acerto da comissão julgadora como igualmente a sua coragem, basta acrescentar que dos cinco componentes da banca examinadora, quatro foram presos e o quinto, por não atribuir o Prêmio a Luuanda, foi absolvido. O regime português colonialista declarou imediatamente extinta tal Sociedade que ousara outorgar tal honraria a um escritor angolano “internado nessa época no Campo de Concentração do Tarrafal de Cabo Verde, acusado de terrorista, cumprindo a pena de 14 anos”. Os escritores Alexandre Pinheiro Torres, Augusto Abelaira; Fernanda Botelho e Manuel da Fonseca foram conduzidos à delegacia policial, o quinto votante, o excelente ensaísta João Gaspar Simões, que discordara do voto da maioria, foi posto em liberdade.

José Luandino Vieira traz para os leitores brasileiros uma dificuldade de difícil superação: seus textos são predominantemente bilíngues, misturando o português e o quimbundo, um dos 7 idiomas africanos falados correntemente em Angola. Sem um glossário, o autor fica semi-compreendido apenas pelo leitor brasileiro. Faltam notas explicativas sobre centenas de palavras e frases sem tradução como jinguba, maboque, gajajas, quinqueras, mufetes, até frases inteiras, para nós enigmas indecifráveis como:

” – “eie, ngana kimitudi kia nganga ia’ngu, eme muene ngi-di-kolo: Um ngongo ioso ki muene munzangala ngasoko nê mu kuiiba o muxima; hanji nê mukuetu Kandidi dia Sabalu dia Nvula letu, nê hanji Xana dia Inana ia jingondo, eme ki ngasoko nâ..”???

Se tradução toda a dramaticidade, graça ou lirismo da narrativa se perde para quem não dominar os dois idiomas. Além de se praticar uma sintaxe da língua portuguesa diferente da que usamos no Brasil e em português de Portugal, o que às vezes dificulta para nós a leitura, principalmente pela regência dos verbos, sem as preposições que pedem ou permutadas por outras preposições (exemplos: empregados entregues NOS patrões, em vez de empregados entregues PELOS patrões como no trecho citado de Domingos Xavier.

Mas José Luandino Vieira no texto mais antigo, A Cidade e a Infância, se mostrava ainda muito tateante e amadorístico no seu maniqueísmo político, racial, só nos demais livros é que ele se vai aprimorando e ousando experiências de estilo que deixam entrever um autor de possibilidades luminosas ainda não totalmente tocadas com vigor literário plural e extraordinário.

O que a seleta de contistas angolanos revela mais ainda, porém, é uma figura inclassificável, em certos pontos reminiscente da irreverência de uma Serafim Ponte Grande de Oswald de Andrade e de outros autores que, na África, ironizaram ferinamente o conformismo dos colonizados em assimilar toda uma estrutura de valores postiça, europeia, já pré-digerida e nunca questionada, mas na realidade inadaptável novos meios – africanos, asiáticos, ou latino-americanos, como nos versos satíricos ácidos do poeta malgache Flavien Rainavo. Manuel Rui é, como contista, a mais fulgurante presença angolana que essa coleção nos apresenta. Dele é a filosofia fecundamente lúcida de um Alioune Diop que já na década de 20 definia o projeto da Présence Africaine com uma amplitude e uma eficácia certeira e ainda plenamente atual.

Ao apelar a todos os intelectuais africanos ara que usem os recursos que a Europa coloca à sua disposição, ele se bate pela livre expressão de cada ser humano em sua singularidade individual e irrepetível. Só através de sua unicidade cada pessoa contribuirá para a formação de uma opinião pública e para humanizar uma civilização que apenas se mostrou tecnologicamente superior às demais, ao emergir da Europa branca e que como um Ptolomeu teimoso insistia que a Europa continuava a ser o centro único do mundo, apesar de todas as demonstrações em contrário. Ele retoma os versos amargos de Aimé Césaire, que assumia integral e altivamente a versão racista de que “o negro não contribuiu em nada para a civilização” e não procura desmenti-la: rebate-a pelo avesso. Não mostra as civilizações requintadas do Gabão, do Benin, não insiste na estética deslumbrante das danças, das roupagens, da escultura, das máscaras, das pinturas, da música tribal, das rapsódias orais, do espírito de solidariedade comunitária, de toda a complexa estrutura espiritual do mundo negro africano. Alioune Diop prefere falar do presente voltado para o futuro, afirmando:

“O negro que brilha por sua ausência na elaboração da cidade moderna poderá, gradualmente, marcar a sua presença contribuindo para a recriação de um humanismo talhado realmente segundo as dimensões do ser humano.

Pois é certo que não poderíamos legitimamente esperar que surgisse um universalismo autêntico se, na sua formação, só interviessem subjetividades europeias. O mundo de amanhã será construído por todos os homens (de todas as raças)

Nós, da África, devemos abordar as questões que aparecem no plano mundial e meditar sobre elas como os demais, a fim de nos encontrarmos, amanhã, entre os criadores de uma ordem nova”

Manuel Rui tem o atrevimento de não aceitar uma “ordem nova” que sai, já pronta e perfeita, da Revolução e da Independência meramente política de Angola. É surpreendente que ele se refira com sátira e clareza às divisões tribais que perduram mesmo depois que os regimes coloniais que as aguçavam desapareceram. Manuel Rui tem – terá ainda hoje? – a temeridade de introduzir diálogos que ironizam tudo: a inépcia do governo, o vazio dos slogans, a panacéia da aliança operário-camponesa como sara-tudo dos males angolanos. É no conto de abertura da sua coletânea Sim Camarada! (Edições 70) que mais se evidencia essa sua vigilância inteligente e zombeteira: o tom é característico desde as primeiras linhas do conto intitulado “O Conselho”:

“Lá fora estava tudo na mesma. Pior ainda que antes porque agora o povo olhava sempre o Palácio com grande confusão. É que naquele primeiro dia do tal governo angolano, maior que qualquer outro no mundo porquanto usava nada mais nada menos que três primeiros-ministros, um ministro, desses novos, apareceu na varanda a bocar que o Palácio agora era do povo. E falava mais: que o Palácio que fôra dos colonos passava para os legítimos donos. E o povo aplaudiu a afirmação que o ministro fez com os olhos esbugalhados de independência, braços agitados em maneira de alguns pensarem que a página da história estava virada. Era só pôr cuspo no dedo, agarrar aí a página e pronto! – Meu! Este governo não liga. Veja só: os nossos com umas fatiotas”poder popular”, os outros, de Mobutu uns e o resto de fato e gravata! Quer dizer: se nisto já começa a diferença este governo não vai chegar ao fim. Corto-os rentes! – Sentenciava de dia para si um camarada encostado em uma árvore ao que um recém-chegado de Lisboa não perdeu a oportunidade de acrescentar:

  • O que é preciso é que as contradições se agudizem e a aliança operário-camponesa tome de assalto este Palácio o mais depressa possível para o salto qualitativo.

  • Chiça! Com salto e tudo? O camarada almoçou dicionário e se não é doutor herdou biblioteca. Vamos com calma!

E o outro escapava-se no meio da multidão”

Mais adiante, sempre cortante, Manuel Rui alude ao contraste, notável também no Brasil entre a carestia da vida devida à inflação que devora os salários dos trabalhadores e a fartura indecente das mordomias governamentais, como o ministro que “mastigava-se pela manhã em dez pães, cinco quilos de presunto e seus queijos vindos do Huambo, tribalismo à parte.”

Para descarregar o retrato que Manuel Rui faz dos pedantes que exalam fumaças de conhecimentos de francês, colocando em português galicismos pernósticos e inúteis:

“Tempo de grandes neologismos a enriquecer o léxico nacional muito para além do ‘luso-tropicalismo’. Suas celências então que ministros ressortisantes do Zaire, Suiça ou Alemanha , entregavam-se a grandes aumentações, propiciadas pelos afluchos das proceduras legislativas autenticamente importadas, sentindo-se a cada passo catastrofados sempre que viesse à baila o poder popular”

O desenho de uma “excelência asnática” que está a votar uma lei merece ser transcrito quase na íntegra, pela sua graça absurda saída de um Ubu-rei africano:

“Após vários oradores terem pedido a palavra para apoiarem as normas propostas, incluindo os próceres da linha de Tavares, sua celência pediu também a sua:

  • Em que concerne o artigo primeiro discordo. Não obstante, o artigo segundo também discordo; não é? E o terceiro voto contra; não é? E relevo para o quarto que também discordo. E rejeito o quinto. Não é? E o sexto idem.

E nesta sapientíssima oração o supra-sumo Tavares foi reprovando tudo até que chegou ao último artigo já com o Alto-Comissário a dormir um sono profundo com um sonho de levar Cabinda num barco para uma aldeia do Minho, no fim da transição.

  • Concordo com o artigo cinquenta e seis. Aliás, nem percebo por que é cinquenta e seis quando podia ser o artigo final.

O artigo rezava assim: este decreto entra imediatamente em vigor.

E até o Alto-Comissário, ainda com o desencanto de há pouco ter sido sócio de americanos nos sonhos dos poços de petróleo, ficou a pensar franzindo o sobrolho.

  • Desculpe. Mas se desaprovou todo o decreto como é que concorda com o último artigo que é apenas uma formalidade? Uma praxe. Uma regra – comentou um ministro da parte portuguesa. O leitor que não sabe fica a saber que este governo era internacional. Tinha partes: a angolana, a portuguesa, a americana, a zairota, a alemã e a etecétera. Mas como a portuguesa andava com a as calças na mão por vias da indigestão spinolar, quer dizer que a imperial mandava na portuguesa e eis que podíamos falar de duas partes: a angolana e a imperial.

Tavares ripostou sem que arregalasse os olhos:

  • Mas então entra imediatamente em vigor?

  • Claro – disse o ministro português.

  • Então concordo! Porque entra imediatamente em vigor. Não é?

  • Então qual a sua dúvida? – Interferiu um ministro angolano, baralhado.

  • Mon frére, é que eu pensava que entrava imediatamente em vigor.

  • Mas está de acordo? – voltou à carga o ministro português enquanto os angolanos riam e trocavam bilhetinhos.

  • Estou e não estou. Ser ou não ser eis a questão da procedura. Por isso é que não deve entrar imediatamente em vigor. Não é?

  • Embora eu não devesse intervir nos debates, acho que o Secretário de Estado do Comércio deu uma achega muito positiva e importante – falou o Alto-Comissário, levando a mão à testa pelo esforço daquela conclusão.

  • Muito obrigado – disse o Tavares de sua desgraça.

  • Se é assim – explicou o presidente em exercício – o irmão Tavares está de acordo.

  • Evidentemente – reafirmou o tribuno com um sorriso de vitória.”

Essa enriquecedora importação cultural angolana que chega ao Brasil traz, qualitativamente, os nomes de José Luandino Vieira, Uanhenga Xitu e Manuel Rui. Quantitativamente, há um inútil desfile de outros nomes: Jofre Rocha, Antônio Abreu, Manuel Ferreira, Manuel Lopes, Fernando Monteiro, Arnaldo Santos, Jorge Macedo, Antônio Jacinto. Mas adentrar-se e seus livros de prosa ou poesia é pura perda de tempo. Como também soa artificial e sem convicção o livrelho do vice-ministro atual da Educação em Angola, Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, que usa como pseudônimo a palavra Pepetela, que significa pestana em um dos idiomas africanos, provavelmente o quimbundo. As Aventuras de Ngunga de sua lavra, digamos, é irmão xifópago das rosinhas minhas canoas e dos pés de laranjas limas ácidas que José Mauro Vasconcelos teima em querer nos infligir como literatura deste lado do Atlântico. Esse menino pioneiro nada tem a ver com a vibração de outro menino pioneiro, crianças que ajudavam ativamente e precocemente na libertação de Angola, escrito por Manuel Rui no mesmo livro e denominado “Cinco Dias Depois da Independência”.

Em visita a São Paulo, Pepetela-Pestana declarou ao Estado de São Paulo ou fez tal afirmação durante uma palestra na USP (Universidade de São Paulo) que

“O escritor está muito empenhado na criação de seu país e sobra pouco tempo para escrever, a não ser que ele se supere”.

Frase que coloca a litertura como uma argamassa nada urgente, na construção penosa de um país com problemas típicos dos países subdesenvolvidos como o Brasil e Angola.

Não: ao contrário. Como já demonstra fartamente a literatura recente de Angola, mesmo antes da Independência, em 1975, existem autores que paralelamente à sua participação política ativa nunca relegaram a literatura a um segundo plano como se fosse uma etapa sucessiva, quase utópica, de um Plano Quinquenal que se reduzisse a construir barragens dominar a tecnologia da extração do petróleo e minérios, a alfabetizar, construir estradas, hospitais, casas.

Enfaticamente: não. Angola se faz TAMBÉM com a inteligência, a sensibilidade, o arrojo de seus melhores escritores, tão decisivos na construção ética e estética de seu país quanto os cientistas, os engenheiros, os operários e até alguns ministros que não sejam do tipo do Tavares maravilhosamente ironizado por Manuel Rui. Se a população negra, mestiça ou branca de Angola quiser ser protagonista e não títere de seu tempo, ela por certo compreenderá que a literatura é o exercício supremo da Liberdade e da Democracia que nenhum regime de partido único, de imprensa amordaçada pelo Estado monolítico, pode jamais sufocar. É um testemunho dessa profundidade que os grandes autores angolanos nos trazem, fazendo-nos crer, com novo alento, no futuro dessa literatura tão forte e importante que nos vem de Angola, uma expressão original, bela, autônoma, de um povo hoje liberto dos grilhões do colonialismo e prestes a dar sua importante contribuição para a formação daquele autêntico humanismo a que referia lúcida e lapidarmente Alioune Diop linhas atrás.

Sem a contribuição original, livre de tutelas estrangeiras adiposas, a África Negra insuflará, na civilização maquinal que nos massacra, aquela alma que dela se alijou à força dentro do maniqueísmo asfixiante do capitalismo selvagem e do marxismo arcaizante. Afinal, a literatura permanece como testemunho da imaginação e como documento de uma época: são os tiranos que perecem e mal deixam rastros de sua passagem no efêmero quebradiço da História.

Reuso

Citação

BibTeX
@incollection{gilson ribeiro2021,
  author = {Gilson Ribeiro, Leo},
  editor = {Rey Puente, Fernando},
  title = {Angola Escreve. Alguns grandes autores do romance ao conto},
  booktitle = {Racismo e literatura negra},
  series = {Textos Reunidos de Leo Gilson Ribeiro},
  volume = {1},
  date = {2022},
  url = {https://www.leogilsonribeiro.com.br/volume-1/4-literatura-africana/03-angola-escreve-alguns-grandes-autores-do-romance-ao-conto.html},
  doi = {10.5281/zenodo.8368806},
  langid = {pt-BR},
  abstract = {Jornal da Tarde, 1981/08/04. Aguardando revisão.}
}
Por favor, cite este trabalho como:
Gilson Ribeiro, Leo. 2022. “Angola Escreve. Alguns grandes autores do romance ao conto .” In Racismo e literatura negra, edited by Fernando Rey Puente. Vol. 1. Textos Reunidos de Leo Gilson Ribeiro. https://doi.org/10.5281/zenodo.8368806.