A literatura e o Homem

Autor

Leo Gilson Ribeiro

Resumo
Diário de Notícias, 1960/09/25. Aguardando revisão.

Cesare Pavese, um dos grandes renovadores da moderna Literatura italiana, ativo antifascista e encarnação moderna do “mito” camusiano do homem íntegro: isto é, aquele em que a substância humana não está separada de suas atividades intelectuais, fez uma série de palestras curtas na Rádio de Turim, imediatamente após o término da Segunda Guerra Mundial, na Itália de 1945, dilacerada pelas ocupações e pela luta dos partiggiani contra a barbárie fascista. Mais tarde transcritas no jornal L’Unità, e integradas, como apêndice de seu livro de poemas Lavorare estanca e La Letteratura americana ed altri saggi, estes admiráveis ensaios enfeixam, na personalidade do escritor turinês, toda a angústia e o desejo ardente de autenticidade que caracterizam a Itália do após-guerra, em rebelião contra o obscurantismo da era mussoliniana. Um documento de vida vibrante, radical, se encerra por detrás das palavras que Pavese manejava com a destreza de um virtuoso, com a parcimônia ditada pela sobriedade áspera de sua terra natal, com a autenticidade que o levou a suicidar-se num hotel suburbano de Turin, em 1950, numa ânsia suprema de atingir uma totalidade artística e humana que lhe pareceu, nos momentos finais, inatingível. De sua vida condicionada pela solidão, pelo combate, pelo mito da fraternidade humana e pelo seu agnosticismo trágico, ficou-nos o legado de sua obra: La Casa in Collina, Mestiere di Vivere, Prima che il Gallo Canti, magistralmente complementada por suas traduções do Moby Dick, do Dedalus de Joyce e outras novelas anglo-saxônicas contemporâneas, de Faulkner, John Dos Passos e outros.

Ao investigar as relações subterrâneas entre Arte, Política, Povo e Cultura, Literatura e Técnica, Pavese formula uma tese já enunciada brilhantemente por Gottfried Benn, o grande poeta alemão falecido recentemente, referente à especialização que o conhecimento da Literatura pressupõe: uma gramática, como explica Pavese, que não alheia jamais, contudo, o leitor e o autor do nexo comum que os irmana – sua substância humana, que lhes possibilita um diálogo em meio à maldição da solidão e uma trégua durante o cerco da incomunicabilidade de um homem a outro. Ao sondar esse mundo abissal, Cesare Pavese se debruça sobre regiões inexploradas, como quando declarava, a respeito da poesia, que “a fonte da poesia é sempre um mistério, uma inspiração, uma comovida perplexidade perante tudo que é irracional, terra desconhecida” e, com a claridade de sua visão e o denodo de sua luta, Pavese forja “em meio ao sangue e o fragor dos dias em que vivemos” um novo Homem, em intercâmbio com a Vida e a Cultura.

Reuso

Citação

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Por favor, cite este trabalho como:
Gilson Ribeiro, Leo. 2022. “A literatura e o Homem .” In Perscrutando a alma humana: A literatura italiana do pós-guerra, edited by Fernando Rey Puente. Vol. 8. Textos Reunidos de Leo Gilson Ribeiro. https://doi.org/10.5281/zenodo.8368806.