O retrato de Virginia Woolf. A luta de uma escritora angustiada com o efêmero

Autor

Leo Gilson Ribeiro

Resumo
Jornal da Tarde, 1979/1/6. Aguardando revisão.

Severo, elegante, o grande novelista Henry James causava risos sufocados nas meninas Virginia e Vanessa que observavam escondidas, enquanto ele visitava a família Stephen e inclinava a cadeira até um ponto inacreditável. Entre apavoradas e deliciadas, as duas irmãs, filhas do grande intelectual Leslie Stephen, ficavam à espera de que a visita ilustre, eminentemente civilizada, caísse ao exagerar a curva para trás da cadeira leve que ocupava: um dia realmente ele foi ao chão, mas não se perturbou; apenas colocou o móvel novamente no lugar e terminou a frase intelectualizada que a queda passageira interrompera.

Desde cedo, Virginia Stephen, a futura grande escritora inglesa Virginia Woolf, estava acostumada com o mundo adulto: o pai era autor de um volume imenso sobre A História do Pensamento Inglês e outro mais assustador ainda com o título de A Ciência da Ética; a mãe, considerada uma das três mulheres mais belas da Inglaterra do seu tempo, também encorajava a completa liberdade de pesquisa e de curiosidade como leme implícito daquela família de uma aristocracia do pensamento e de tendências liberais e francamente agnósticas. A biblioteca imensa daquela casa senhorial estava aberta, com todos os milhares de seus livros, sem censura, às crianças. Havia, é lógico, reticência quanto “a certos temas”, mas o mundo de Virginia Woolf formou-se não através dos jogos infantis, mas da leitura: precocemente, pensar tornava-se mais avidamente relevante do que agir; e haveria ação mais palpável do que a deixada pelos poetas e escritores, cronistas da passagem do tempo e da História, em suas biografias, peças, poemas e romances?

A casa guardava troféus por cima da lareira e pelas paredes: lembranças da juventude esportiva do pai em regatas estudantis ou a bengala usada para escalar as montanhas nevadas dos Alpes suíços. E poucos indícios revelavam que por trás daquela tranquilidade e daquela segurança burguesas havia um desequilíbrio oculto, uma tensão como a que derrubara a postura do grande novelista Henry James: havia por exemplo uma vaga, quase imperceptível inquietação filosófica no pai que duvidava intimamente da importância e da magnitude de sua própria inteligência – ele não seria, afinal, apenas um medíocre que sobressaíra menos pelo seu valor intrínseco do que pela banalidade esmagadora da maioria? Por enquanto, os germens da esquizofrenia estavam como que adormecidos; Virginia escutava o pai, cético, a pregar a virtude cardeal: a sinceridade de ir até o fim na busca de sua autenticidade, fosse esta qual fosse, de não fingir admirar o que não se admirava ou não se entendia e de escrever de forma sucinta, precisa, extremamente racional. Ao perder prematuramente a mãe, aos 13 anos de idade, o mundo doméstico, íntimo, completou-se com a grande cidade: os parques e avenidas de Londres que ela percorria com a mão presa à do pai, um hábito que persistiria em sua vida e que se encaixaria na descrição minuciosa, de primeira mão, da Londres em que se desenrola, por exemplo, Mrs. Daloway.

Deus não era um tópico discutível: para o pai, o importante era, em um mundo presumivelmente sem a lógica de um Criador do Céu e da Terra, o relacionamento humano. A constante troca de opiniões cultas a respeito de uma grande variedade de assuntos com literatos como Thomas Hardy, ministros de Sua Majestade, cientistas de renome – essa era a moldura ideal para o círculo central da família estável e sem problemas. Entre as leituras preferidas da menina que já alinhava histórias de reis elisabetanos e tragédias de Shakespeare havia uma, porém, que se sobressaía: a da romancista James Austen, que levara uma vida de reclusa no interior da Inglaterra e deixara quadros de sutil ironia das hipocrisias e sinceridades do meio provinciano. Feminista antes de saber o que essa palavra pudesse significar, Virginia Woolf tinha já um agudo senso crítico da camada social privilegiada a que pertencia e não achava grande mérito em sobressair-se, quando se pertence às classes abastadas, dadas as vantagens passadas hereditariamente de geração a geração. Mas advertia a insignificância do papel atribuído à mulher: a História da Inglaterra - e só da Inglaterra? - era a história dos feitos dos homens: almirantes da Esquadra Real Britânica, reis, generais, pensadores, cientistas. A mulher, se era dotada de personalidade invulgar, conseguia no máximo casar-se com homens excepcionais ou ser a amante de lord Nelson, que derrotara Napoleão, como lady Hamilton.

Ao amadurecimento da crítica e escritora se soma paralelamente a aproximação com o mundo das sensações, das ideias que ela traz como revolução estética à literatura não só inglesa, mas de todo o século XX. A morte, parte obscura da vida era como o verme oculto na fruta fresca e cintilante de cor, assim como mais tarde a sensibilidade delirante a conduziria à loucura e ao suicídio durante o bombardeio de Londres pelos aviões alemães durante a Segunda Guerra Mundial.

A liberdade de pensamento e de leitura que o pai lhe dera como direito de batismo estendia-se, o que era francamente chocante para os padrões vitorianos de então, ao plano sexual: sua primeira proposta de casamento lhe vem do homossexual Lytton Strachey, um intelectual de finíssima sensibilidade, formado pela Universidade de Cambridge, uma proposta que ela pôde calmamente recusar, mantendo o amigo. Ela própria, segundo revelações biográficas recentes, oscilava entre a assexualidade e uma bissexualidade levada ao extremo com lady Sackville-West, sendo matéria de pura especulação não comprovável a tese segundo a qual ela teria morrido virgem, mesmo depois de casada com o crítico literário e seu companheiro dedicadíssimo, Leonard Woolf. Woolf é quem a retira da semiobscuridade da crítica literária – metier que ela manteria durante mais de trinta anos, sem interrupção, no Times Literary Suplement – para o reconhecimento vital do seu próprio talento como ficcionista. Não é uma explosão repentina. Virginia Woolf tatearia em meio a livros ainda imaturos, antes de atingir a plenitude de The Waves, To The Lighthouse, Mrs. Dalloway. Que profunda subversão dos valores da literatura inglesa aquela mente em eterna efervescência poderia trazer? A novidade do romance profundamente interiorizado, antecipando-se várias décadas às premissas do nouveau roman francês: o romance experimental, sem enredo propriamente, sem obediência à cronologia tediosa, em que os acontecimentos fossem todos mentais, sensações, pensamentos fugidios – tudo tão efêmero e tão poético quanto um quadro impressionista francês que capta o matiz de um nenúfar ou de um feixe de palha tocado pela luz do sol poente.

Lucidamente, Virginia Woolf denuncia a mumificação da ficção inglesa que para ela se tornara a área dominada pelos escritores “materialistas”: H. G. Wells e seu frio cientificismo precursor da civilização tecnológica atual, Galsworthy e seus retratos moralistas da sociedade burguesa em decomposição. Até a preocupação social de D. H. Lawrence de romper os tabus e as castas da estrutura vitoriana lhe parece uma tarefa menor, mesmo se apoiada em um talento verbal imenso embora mal aplicado: mudar o mundo não significava descobrir o seu mistério nem bovinamente tornar “as pessoas felizes”. Qualquer discussão política – exceto a que propusesse direitos à mulher relegada a uma posição servil injustíssima – roçava pela ingenuidade: alteram-se as condições materiais, mas não era de igual importância reconhecer que o talento é escasso em qualquer segmento social e que o poeta não está tão distante do trabalhador braçal, pois ambos são joguetes de um caos indecifrável? Os escritores russos, sobretudo, reforçam essa sua noção da arte como fim em si mesmo: Dostoiévski, Tchekov, Tólstoi, Turguêniev desvendam uma concepção inteiramente nova da literatura: a de uma busca da fraternidade entre os seres humanos, a alma interrogando um Deus inefável e incógnito no Idiota. Anna Karenina sacrificando-se debaixo das rodas do trem, em São Petersburgo, pela paixão pelo conde Vronsky. Eram premissas inquietantes, mas que não traziam resposta para o racionalismo nem para o sentimentalismo ingleses: Tólstoi escrevera, sem dúvida, o maior romance do Ocidente – Guerra e Paz -, ela concordava, mas mais próximo da sua sensibilidade estavam um irlandês, James Joyce, que dissecava as 24 horas de uma vida medíocre, a de Leopold Bloom, em Dublin, equiparando a banalidade de sua existência com o périplo simbólico de Ulisses na Odisseia e um francês semijudeu, de uma cultura nutrida por uma fortuna colossal e por uma sensibilidade neurótica: Marcel Proust. Neles, ela sentia, havia a marca inconfundível do grande artista, apoiado numa tradição cultural multissecular.

O grupo restrito de intelectuais, economistas, matemáticos, músicos que passou a ser conhecido como a clique de Bloomsbury era liderado por Virginia Woolf, que negava veementemente a exclusividade daquele clube de estetas: o principal era eliminar os causadores do tédio e discutir francamente as teses que derivaram das cátedras da Universidade de Cambridge: citar os clássicos latinos e gregos, ater-se à procura de sensações estéticas, de ideias perenes, partidas dos arquétipos da psique humana, submetendo-as, por meio do debate, ao teste de sua veracidade implícita e comprovável. A Primeira Guerra Mundial sacudiu os fundamentos sobre os quais se assentava o grupo de Bloomsbury.

Só em 1917 o choque paralisador do conflito cicatriza o suficiente para ela e o marido montarem uma pequena editora, a Hogarth Press, que imprimirá os primeiros escritos que lhe darão um relevo crescente na literatura do seu tempo. Seu amigo, E. M. Forster, o esplêndido novelista de A Passage to India e Howards End confirma a graça, a malícia, a inteligência inventiva de Virginia Woolf como incomparável o que lhe parece “estranho”: a insistência da escritora cada vez mais famosa na atitude coerente de feminista insaciável. Em várias de suas obras, ensaios e resenhas ela indaga: a mulher é inferior ao homem por deficiência congênita ou foi a sua sujeição cultural, econômica, religiosa que a relegou a um papel meramente de adorno na civilização masculina? E com pertinência ousada para uma época tão sufocante, quando lady Astor vociferava nas praças de Londres em prol dos votos para as mulheres, ela especula: e se Shakespeare tivesse nascido mulher? Não era de bom tom uma mulher ocupar-se de livros, mas sim do seu futuro casamento, nem era ao menos admissível que uma moça de família sonhasse em ser atriz. Shakespeare seria então sufocado com toda a sua genialidade, condenado pelo sexo “errado”?

Orlando, sem ser mais do que uma diversão deliciosa no deslumbrante painel literário de Virginia Woolf, baseia-se nessa miraculosa troca, à vontade, de sexos para que a bissexualidade permita usufruir o melhor que os dois mundos díspares têm para oferecer: o da mulher e o do homem. Essa fantasia sem maior profundidade expande-se também por vários séculos, permitindo que ele/ela, Orlando, reconstrua poeticamente vidas anteriores, unidas pelo elo indivisível da consciência, de embaixadas suntuosas até o convulso mês de outubro de 1928 quando o livro precisamente acaba e Virginia Woolf começa um círculo de conferências que completarão seu livro A Room of One’s Own, uma defesa aguçada e percuciente dos direitos pisoteados pelo homem da mulher escravizada, privada de cultura, de voto, de posições, de decisão, um objeto ou um espólio à disposição tirânica do macho.

Para Virginia Woolf, além do caráter não sectário, politicamente, do artista, havia outra característica intrínseca que distinguia o artista dos demais: a sua congênita androginia. A ausência de panfletarismo político fácil, em busca de honrarias do governo ou de fama patrocinada por qualquer partido político, porém, não bloqueia a consciência social do artista: Three Guineas é talvez o único livro de Virginia Woolf que não será lembrado, mas sua honestidade e seu tom eloquente constituem uma prova claríssima de quanto ela aderia às grandes causas da sua época em rápida transição da Primeira para a Segunda Guerra Mundial: a defesa apaixonada da paz, a denúncia dos horrores que a carnificina da guerra civil na Espanha traziam como prenúncios do massacre em escala global do hitlerismo e dos campos de concentração nazistas. Um artigo seu publicado na época em que frequentava com o marido as reuniões do Labour Party (Partido Trabalhista) no jornal comunista Daily Worker valeu-lhe a distinção de ter sido incluída na lista das 2.300 pessoas que Himmler mandou elaborar para que fossem imediatamente encarceradas assim que a Inglaterra fosse “invadida” pelo Terceiro Reich: Virginia Woolf, Bernard Shaw, E. M. Forster, Bertrand Russel e a quase totalidade da aristocracia e da intelligentsia britânicas daquele tempo.

A nova guerra, “a máquina de matar colocada em movimento”, como ela a denomina, a isolaria de forma definitiva. As bombas da blitz alemã a forçam a um retiro no campo, longe da sua inextricável Londres, cenário de muitos de seus livros, e começam a corroer toda a textura física – e mais tarde psíquica – da sua vida: as praças destruídas, os lugares da infância recobertos dos pós dos desmoronamentos, o blackout, a sirenes de alarme – tudo contribui para suas crises cada vez mais graves de depressão aguda.

Em sua batalha pessoal contra as crises nervosas que a arrastam à prostração e ao internamento clínico constantes. Virginia Woolf combate com o arsenal do trabalho incessante. A guerra silenciara as vozes dos amigos intelectuais, começara a dizimar os jovens poetas de poemas inacabados, a análise dos autores encarada como profissão de crítica literária serve-lhe de anteparo, mas com frequência também de contato com o mundo do desespero e da loucura. Escrevendo sobre a genialidade de Tólstoi e sua minuciosa análise psicológica de suas personagens e suas vidas tumultuadas pela incursão militar de Napoleão na Rússia, ela se refere à obsessão russa pela vida e sua intensidade febril: “Mas no centro de todas as pétalas brilhantes, cintilantes de flor, o escorpião: Para que viver?”

A vida dos seus protagonistas espelha a sua dualidade: o que está de fora em comunicação com o que está no interior, as sensações percebidas pelos sentidos no fluxo exterior interpretadas pela contemplação meditativa de cada indivíduo isolado. Essa corrente ininterrupta de associações ilógicas da mente com o movimento incessante exterior é a mesma Londres, com sua trepidação urbana de milhões de vidas paralelas, e no mar com suas ondas em sucessões inumeráveis, sem alterar a placidez de seus abismos mais profundos.

Mrs. Dalloway – a única de suas obras-primas que recebeu uma tradução brasileira excelente (Editora Bruguera) – reflete essa interação metropolitana. No decurso de um dia, durante a preparação para uma recepção mundana, Mrs. Dalloway entra em contato com o seu passado – o homem que se apaixonara por ela e partira para a Índia sem esperança de ser amado – com a frustração de sua vida brilhante, mas oca e com a morte, o suicídio de um neurótico de guerra que é narrado em meio a conversas fúteis por um médico tão arrogante quanto incompetente em suas amorais “experiências” com os pacientes e seu desumano desprezo pela vida.

Em To The Lighthouse, talvez sua criação mais perfeita e mais massacrada em sua versão para o português, infelizmente (Editora Nova Fronteira), é o mar que simboliza o fluxo e refluxo, é a visita adiada durante anos ao Farol que marca a passagem inexorável do Tempo, a decadência, a morte. Virginia Woolf queria capturar a essência de um momento passageiro em que houvesse a harmonia entre o que ela chamava de “a vida em geral” e o desamparo de cada ser humano, sem qualquer traço de autopiedade nem sentimentalismo barato, mas com um estoicismo heroico e uma crença absoluta nos poderes de cura e compreensão que a Arte encerra em si.

O desequilíbrio mental acentua-se e exaure suas escassas reservas de energias. Em um de seus livros, quando uma mulher acometida de crises de loucura é beijada em seu delírio, ela vê apenas uma velha cortando cabeças e jogando-as fora. A felicidade, ela conclui com Proust, é uma forma de vulnerabilidade maior para o sofrimento: cada momento de êxtase é pago com uma dor tão paralisadora quanto sem sentido. E a revelação incandescente de Terence em The Voyage Out: “Ele nunca compreendera antes que subjacente à vida de todos os dias, está a dor, quieta, mas prestes a devorar. Ele parecia poder ver o sofrimento como se fosse uma chama, enroscada nas bordas de todas as ações, comendo a vida de homens e mulheres…” Como o casal que ele vê entregue à felicidade do amor no hotelzinho iluminado pelas luzes da cidade e pergunta a si mesmo. “Como eles podiam ousar amar-se… como ele próprio ousara viver como vivera até então, sem cuidados, rapidamente, passando de uma coisa a outra?… Nunca mais ele se sentiria seguro, nunca mais creria na estabilidade da vida ou seria capaz de esquecer que profundezas de dor jaziam sob pequenas felicidades e sentimentos de contentamento e segurança”. E mais tarde o tom sombrio que envolve a visão de Virginia Woolf torna-se mais solene e mais escuro ainda: quando o marido observa que seu novo livro é de uma filosofia melancólica ela anota em seu Diário: “No entanto, se nos propomos a lidar com as pessoas numa escala ampla e a dizer o que pensamos, como podemos evitar a melancolia?”

Não bastavam os esforços preliminares, ela queria escrever como Debussy compunha, diafanamente, ou como Monet pintava a fugacidade, o efêmero do momento. The Waves seria o equivalente ao joyceano Finnegan’s Wake e a ruptura de toda a estrutura do romance tradicional: cada personagem tem seu ritmo e estilo próprio, os monólogos assumem dimensões musicais e cinematográficas, aproximando-se em um close-up de quem pensa ou concentrando-se, como uma câmara célere, em algum aspecto minúsculo de uma flor, de uma pedra, do reflexo da espuma nas ondas que batem contra a praia. Cada livro novo era um desafio inédito e diante de cada um nunca se achava capaz de resolver os problemas implícitos na difícil arte de criar ou recriar com palavras: parecia-lhe que os instrumentos de que o escritor dispõe são imperfeitos e cada nova tentativa encerrava em si o gérmen de um desastre pelo menos parcial. A vida era intrinsecamente superior à literatura e ultrapassava os meios de capturá-la e exprimir a sua infinita riqueza. Ela não sabia que revolucionara o conceito de literatura no século XX tanto quanto Joyce e Proust como igualmente ignorava que com a sua morte voluntária ela celebrava um macabro ritual do crepúsculo da imaginação e da perfeição artística: a grandeza da literatura inglesa e europeia se punha como o sol naquela dia de março de 1941 em que ela previa a volta das crises nervosas e antecipava com terror que não se recuperaria mais da noite que envolvia seu cérebro esfacelado pelo desmoronamento de toda e qualquer civilização que a guerra acarretara.

Com um bilhete sucinto de amor e despedida extremamente comedidos, ela se despede do companheiro devotado, sem querer agravar as condições precárias de instabilidade emocional e de preocupação atenta em que ele vivera. Costura no bolso da saia pedras pesadas e dirige-se para o rio que flui perto de sua casa de campo. À margem ficam seu chapéu e a bengala que usava para seus passeios em busca de cores, sensações, da vida estuante: ela agora partira em busca da morte e deixara insubstancialmente, ao lado de seus legados perecíveis, a grandeza nunca mais igualada do esplendor da sua prosa poética, coruscante de inteligência, de comoção humana e absoluta mestria na edificação de sua arte solitária.

Reuso

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Por favor, cite este trabalho como:
Gilson Ribeiro, Leo. 2022. “O retrato de Virginia Woolf. A luta de uma escritora angustiada com o efêmero .” In As três grandes damas da literatura europeia: Virginia Woolf, Marguerite Yourcenar e Doris Lessing, edited by Fernando Rey Puente. Vol. 7. Textos Reunidos de Leo Gilson Ribeiro. https://doi.org/10.5281/zenodo.8368806.