Antero de Quental: o ideal estético e político

Autor

Leo Gilson Ribeiro

Resumo
Jornal da Tarde, 28-01-1991. Aguardando revisão.

Não haveria, realmente, motivo para esperar. É verdade que as comemorações mais importantes do centenário da morte do admirável poeta e filósofo político português Antero de Quental terão o máximo de esplendor a partir de setembro vindouro. Afinal, o sutilíssimo sonetista faleceu em Açores, dia 21 de setembro de 1891. No entanto, Paris já se antecipa às celebrações de 13 e 14 de junho próximo, com um Congresso Internacional sobre Antero de Quental e a Europa. As cidades de Coimbra, Porto, a Universidade de Harvard, a dos Açores - todas acorrem a relembrar com exposições o poeta que, com Eça de Queirós, entre outros, sacudiu a sociedade bem-acomodada de Portugal da sua época, propugnando o Reino quádruplo da Poesia, do Socialimso, da Justiça e da Liberdade.

Nem todos sabem que o maior poeta moderno português, Fernando Pessoa, tinha sempre à cabeceira a obra poética completa de Antero de Quental, que o interessava sobremaneira pela perfeição de estilo nos versos que legou à cultura de língua portuguesa e, portanto, é claro, ao Brasil também. Esperemos que setembro não se limite, no Brasil, a pequenas notas assinalando os 100 anos de passamento do finíssimo poeta lusitano…

A Universidade de Açores está encarregada de publicar a totalidade da criação de Antero de Quental, em sete volumes divididos em Poesia (e volumes0), Filosofia (1 volume), Politica (1 volume) e Cartas (2 volumes).

Um dos especialistas no magnífico poeta, o ensaísta Joel Serrão, em entrevista concedida ao Jornal de Letras lisboeta de 15 a 21 de janeiro próximo passado, ressalta o papel profético de Antero de Quental. Já em 1872, no Pensamento Social ele reivindicava a inserção de Portugal na realidade européia de seu tempo e defendia, com coragem e coerência, um Partido Socialista Português que estivesse indissoluvelmente ligado ao binômio da Justiça e da Liberdade, nada tendo, portanto, com o jugo marxista-leninista que aprisionaria a hoje “Desunião” Soviética a esmagar os anseios de liberdade da Lituânia, da Letônia e da Estônia em nossos dias, à sombra da guerra do Golfo.

Para Joel Serrão, a concepção anteriana da essência da liberdade é alcançar o Bem para a totalidade do agrupamento humano, sem tolerar qualquer tirania, antecipando-se assim ao credo democrático deste final de século em tantos países alérgicos a qualquer tipo de ditadura.

Serrão chama a atenção para os laços que, na sua opinião, continuam existindo, fortemente, entre a geração de Antero de Quental e as jovens gerações de agora. Para ele, os mesmos ideais anterianos continuam em nossa época: se o poeta encontrou uma sociedade portuguesa apática e até mesmo hostil a qualquer mudança no status quo, cumpre às gerações jovens da atualidade lutar pelos mesmos ideais em todos os países da terra, sem esmorecer. Não será necessário insistir na atitude sempre democrática dessa figura exponencial da década de 70 do século passado: Antero de Quental respeitava os que discordavam dele, sem, no entanto, abandonar os seus próprios e concretos pontos de vista.

Figura carismática, o poeta e pensador açoriano sofreu inúmeras decepções, principalmente no plano político, e suicidou-se em 1891. Suas ideais de progresso, de igualdade social esboroam-se de encontro à realidade imóvel das classes dominantes de Portugal.

Ele, que lutava por um ideal, quando na realidade era um introvertido, um contemplativo, sucumbiu à sua própria utopia. Seus ideais estéticos também anelavam uma perfeição de difícil obtenção. Daí um pessimismo cada vez maior se apodera dele e o vitima, finalmente. O poeta juvenil das Odes Modernas e o poeta maduro, atormentado, dos Sonetos tantas vezes perfeitos deixaram uma cintilação única na Literatura Portuguesa, como no título de um de seus versos: “Tormento do ideal”.

Reuso

Citação

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Por favor, cite este trabalho como:
Gilson Ribeiro, Leo. (28AD–1AD) 2022. “Antero de Quental: o ideal estético e político .” In Redescobrindo Portugal: Perfis e depoimentos de alguns escritores portugueses, edited by Fernando Rey Puente. Vol. 6. Textos Reunidos de Leo Gilson Ribeiro. https://doi.org/10.5281/zenodo.8368806.