A poesia deste livro inaugura nosso ano literário
Finalmente, no oitavo mês, inicia-se o ano literário brasileiro com uma obra nova.
Marly de Oliveira é das raras vocaões poéticas autênticas no Brasil e há sete anos, depois da segunda edição de seu livro de poemas A Suave Pantera, não publicava nada. Precoce professora de literatura neolatinas, elogiada por seus versos em italiano pelo grande poeta Ungaretti, sua atmosfera de ensino é a mesma que envolve sua poesia: Garcilaso de la Vega nas antologias espanholas, Guido Cavalcanti, Petrarca - a poesia clássica é o seu clima natural.
Seus versos traduzem esse mesmo objetivo arcádico: o homem sensível diante da natureza, do escooar-se do tempo, da morte. Foi o tema de magníficas reflexões poéticas desed Lucrécio e Virgílio até Fray Luis de León, Quevedo e Bocage. Marly de Oliveira adere a essa tendência nitidamente clássica e suas imagens contrastam com atitudes românticas, de um poeta que falasse só subejtivamente e cantasse suas mágoas ou alegrias como Hoelderlin, um Keats, um Leopardi.
Fato auspicioso e original, a poesia de Marly de Oliveira está imbuída desses espríritos, mas não trai nenhuma influência marcante que fizesse sua poesia meramente caudatária. Ao contrário, na poesia brasileira ela estaria mais integrada, como estilo, no movimento dos árcades mineiros a Inconfidência e sua busca de raízes bucólicas, seus queixumes à natureza de suas desventuras amorosas, seus devaneios e anseios frustrados. Note-se, isto sim, um modelo poético, no máximo: a musicalidade de Cecília Meireles, seu estro clássico diante de temas como a fugacidade da vida humana e de toda matéria animada, a inexorabilidade da morte, a descoberta pagã da natureza na qual o poeta se integra apenas como um elemento a mais nesse rio de mutabilidade incessante que flui independente da observação e da vontade humanas.
Seu livro publicado esta semana, Contato (Editora Imago) divide-se claramente em seções de qualidade desigual. Os dois primeiros, “Contato” - que dá o título geral à coletânea - e “A Vida Natural” - são os que obedecem a essa linha voluntariamente arcaica, atemporal do canto poético. E são de longe superiores ao último, “O Sangue na Veia”, quanso a poetisa celebra, como já celebrara em livros anteriores, os êxtases da carne.
Mais esmiuçadamente e com rigor crítico maior, pode-se apontar “A Vida Natural” como o meio-dia poético da poetisa fluminense. É quando Marly de Oliveira completa poemas de uma beleza transcendente e que unem à meditação filosófica a graça de um estilo espontâneo, inquieto, simples e agudo ao mesmo tempo. Como o esplêndido início do poema singelamente encimado apenas pelo seu número de ordem na coleção, IV:
“O sentido das coisas, onde achá-lo senão nas próprias coisas?
Ou algo está por trás
da rumorosa vida de um inseto,
da quietude da flor, do meu espanto
vivendo-nos tranquilo,
E cada dia nos absorve um pouco?”
De igual excelência é o poema XXXV, que começa com a afirmação destemida:
“Ao campo imenso e verde em que a memória
um dia se desfaz
na não-memória, ou no desejo agudo,
no mero possuir que se descora,
não quisera chegar
senão por amplas vias, onde tudo
conserva uma iminência, um furor mudo,
e ao fino entendimento escapa
o mais que amor do amor, o mais que nada
do silêncio do campo em verdes frondas,
soltando em sombra e cor desenhos nulos.”
São momentos altos, vitalizantes de sensibilidade e inteligência da poesia que hoje se faz no Brasil. Nesse afã incontido de entregar-se à deslumbrante descoberta do mundo pelos sentidos, sem interferência do intelecto, o poeta acolhe o calor do sol como a abelha na flor e a ovelha sobre a relva, à sombra da montanha - a vida é para ser fruída e aceita em seu fluxo inevitável, o que existe adquire a onipotência dos caprichosos deuses da Antiguidade clássica - “o divino Real” transforma-se no reconhecimento do “divino imediato”: aqui e agora, o hic et nunc latino, é tudo que é dado ao homem interpretar da vida, o passar das horas impassível para os deuses ou um Deus incognoscível e que seria inútil interrogar. O poeta acede à “integração nesse absoluto/ que é a direta experiência do que existe”, pergunta-se se “o real é o invisível do visível” para finalmente cessar de cogitar e conejcturar sobre uma vida indevassável e enigmática. Talvez em meio à mutabilidade heraclitiana e tudo corresponda como comportamento um gozo deliberado de tudo ditado por uma dúvida lucreciana de um Deus compreensível pela limitação humana ou pelo Nada escancarado no túmulo iminente.
Colocadas e nível irrecusável estas virtudes evidentes da poesia por vezes luminosa de Marly de Oliveira, alguns reparos no entanto empanam sua criação e tornam fragmentária uma perfeição que, se transluz em muitos poemas, decai em outros.
Sem abordar a série de sonetos de “O Sangue na Veia”, o anti-clíma que encerra esta coletânea e que celebra o conhecimento da carne com uma falta de inspiração e densidade poética entristecedoras para o leitor que se entusiasmou com tantos momentos dos 2/3 iniciais de Contato, seria legitimo duvidar de certos artifícios a que recorre a autora para rechear de um pedantismo deslocado seus versos tanto melhores quanto mais naturais.
Em primeiro lugar ocorre registrar a riqueza vocabular que confina claramente no adiposo, no rutilante feito unicamente para brilhar mas não para acrescentar importância ou porque decorra de uma necessidade íntima do verso, sentimento e expressão, forma e conteúdo indissociáveis. O poeta tem o direito de recorrer ao dicionário inteiro, se necessário à sua dicção poética, para exprimir com maior precisão e raridade uma noção ou percepção singulares em si. Portanto, nada se opõe à utilização sucessiva de termos como “caroável”, “despiciendas”, “tegmes e tégulas”, “órgio”, “absconsos”, “desparzidos”, “prescientes”, “infrene”, “prefini-lo”, “calicromo”, “caliciado”, “circúnvaga” e inúmeros outros.
Como estão inseridos nestes poemas, porém, transmitem um gérmen enfraquecedor da força poética de Marly de Oliveira: o gérmen do culteranismo, ou seja uma cultura ou esmero afetado do estilo e que tipifica a época da decadência das literaturas ibéricas, nos séculos XVII e XVIII. É verdade que a poetisa brasileira não chega aos excessos de um Góngora nem a um hermetismo de interpretação múltipla cerceador de uma abordagem mais plebeia. Mas o culteranismo é uma forma de anemia do canto que não se fortalece com vocábulos, mera areia para a construção poética, mas sim com o cimento do pensar-sentir que justamente caracteriza a grande poesia clássica, erudita quando necessária, nunca artificial nem auto-complacente na sua severíssima escolha de palavras, meros vidros que deverão filtrar a luz da inspiração lírica.
Contato, descontados estes artificios, é um livro de poesias de magníficas criações poéticas. Só resta esperar que Marly de Oliveira confie mais na espontaneidade do verso do que na sua reconstrução laboriosa e desvitalizada por excrescências que só a debilitam, ao impedir a forçar e o tumulto de sua primeira versão, ampla e natural. Seu talento singular na poesia brasileira bem merece que ela se espelhe mais em um dos 3 grandes mestres a quem cita numa epígrafe que coloca lado a lado Dante, Guido Cavalcanti e o terceiro, carlos Drummond de Andrade. A conteção do poeta mineiro deveria servir de parâmetro para a poetisa que dele transcreve para a poetisa que dele transcreve os versos de sabedoria não seguida por ela própria: “que não macule ou perca sua essência ao contato furioso da existência”.
Poetisa dos sentidos que confessa aspirar “à desistência do intelecto”, poetisa de maravilhosos dotes, Marly de Oliveira não deve deixar-se seduzir pelo altissonante das palavras e si mergulhar no esplendor da vida efêmera que ela, com a mesma inconsicência e a mesma grandeza de uma flor que desabrochasse ou uma estação que passasse.
Vinte anos de poesia, à procura de novos caminhos
Jornal da Tarde 5/7/1980
Dois poetas brasileiros completam 20 anos, cada um, a não ser pela aderência coerente, contínua, à poesia. Coincidentemente, publicam-se, com pequena margem de diferença de tempo, livros que assinalam esta metade do caminho percorrido: Invocação de Orpheu, da capixaba Marly de Oliveira (Editora Massao Ohno) e Um País o Coração, do gaúcho Carlos Nejar (Editora Nova Fronteira).
O trajeto de Marly de Oliveira apresenta uma consciente economia temática: a preocupação romântica do livro precoce de estréia, O Cerco da Primavera, dilacerada entre o amor e a morte, passa a uma reflexão estética sobre a perfeição da beleza que se completa a si mesma em Explicação de Narciso, atravessando o deslumbramento erótico de O Sangue na Veia e outras coletâneas para chegar ao ponto de inflexão de toda a sua obra que é Contato. Em Contato, há uma percepção psicológica profunda da incomunicabilidade, um canto solitário de quem não compreende o próximo nem é decifrado por ele. Como diz a autora: “É o meu fracasso diante da opacidade do outro ou da minha vontade de transparência”.
No entanto, desde o início Marly de Oliveira permanece fiel a uma linguagem não vinculada ao que passa: ao contrário, ela celebra o fugidio em termos clássicos, hieráticos, voluntariamente fora de um tempo e de um espaço definíveis. Sua predileção ela atitude filosófica da Antiguidade greco-latina espelha em parte sua formação poética européia cimentada pelo encontro com o grande poeta italiano morto há dez anos, Ungaretti, e que vincaria fundamente o seu canto.
Se já em Explicação de Narciso o centro era o mito da Beleza ensimesmada na contemplação da sua plenitude, em Invocação de Orpheu a evocação do trágico arquétipo da poesia e da música que arrebata até os seres inanimados conflui com o tom elegíaco que se mesclou à sua poesia mais recentemente e acentua a noção de solidão, de perda por meio da metáfora de Orpheu, que percorreu o Hades, o Inferno mitológico da Grécia Antiga, para resgatar sua amada Eurídice e a perdeu para sempre ao violar a lei que o impedia de voltar-se para contemplá-la.
Esta Invocação de Orpheu parte talvez de uma inspiração rilkeana ao ferir o silêncio com o apelo a um anjo que, porém, não acorre em auxílio do desamparo humano. Ela deflui, desde os primeiros versos, de uma superação de poemas anteriores ao anunciar;
“Poesia é caminho, única vertigem além do amor, além da anunciação” se interpretarmos “além” como sendo “depois de”. Essa descoberta de que a própria poesia é caminho revela uma dinâmica nova, intrínseca, da própria ação poética, não mais a serviço de enunciações, mas ela própria se fazendo em sua autopesquisa ontológica e existencial. Surge a ideia da unidade perdida, antes da intervenção cruel e indiferente dos deuses do Olimpo, numa busca mística já nitidamente esboçada: “E a ideia da antiga conjunção/ Com o Todo de onde viemos?” para entrelaçar-se com um linguajar reminiscente da melancolia camoniana:
“Foi-se com o que foi o que já foi” e desembocar na afirmação da intensidade como antítese da ameaça da destruição futura e do aqui e agora como únicos valores mortais possíveis:
“Atendamos ao mito do presente”.
A mesma atmosfera clássica é captada com termos que ecoam a vil tristeza camoniana:
“O que lhe deram logo retomaram, o que se tem se perde, e esvai-se o mel da mais terna esperança” mas com ecos de uma rimembranza leipardiana de melancólica resignação com o Fado do infortúnio:
“Eu que movia tudo, sou movido de tua lembrança agora”.
Mas a aceitação de um Destino injusto e imerecido não implica ausência de revolta, por mais fútil que seja, do humano contra o desumano, o que vibra mesmo por instantes contra o insensível. São momentos de grande fluidez e espontaneidade poética que se acompanham de uma musicalidade admirável do ritmo: “O canto é minha explicação mesmo que diga o que não sei./ Sou o sentido do que se transforma, do que resiste à petrificação” em contraste com o acréscimo meramente retórico e desnecessário da frase final:
“Eu vos ensino
A dor e vos ensino a cólera,
que ela vos salve de vosso destino
menor e implacável.
E vos ensino a glória”.
Há interpretações sócio-políticas da poesia de Marly de Oliveira que, no entanto, empobrecem esse rico veio expressivo, tentando dasr à noção de revolta um conceito não contido possivelmente na intenção da autora de dissimular a luta de classes por trás da rebelião, numa confusão que ela jamais estabelece entre Orpheu e Spartacus. A poesia de Marly de Oliveira, será necessário repeti-lo, não está subjugada a manifestos nem a tomadas de posição: ela se enraiza numa inquietante visão lucreciana de que os deuses são uma ficção do desamparo humano ou estão majestosamente surdos às nossas súplicas, e portanto não reivindica nem postula critérios de igualdade social ou melhor distribuição de renda: a sua é uma batalha metafísica com o perecimento, com o conceito clássico do efêmero, do fugidio, do mortal. Demonstração fácil quando se leem os versos estoicos que aludem a
“Aquele vão desejo de elidir
a sombra, o erro, a desventura, o
pó, a que se volta um dia”
Ou ainda:
“Não percebem que estão de passagem,
que o frêmito da folha, o vento,
que dispersa o que se diz, o toque
de sombra na folhagem são sinais
evidentes da partida”.
Cristalinamente, é o canto VIII que mais comove o leitor, pela sua aderência estrita ao pranto de Orpheu e pela unidade assombrosa que a poetisa obtém ao tornar presente, palpável, pan-humano, o sentimento elegíaco da saudade de um amor perdido:
“Eras a fonte em que me via, o elo
da minha aceitação, que me ligava
ao invisível, ao que não entendia,
e te perdi”.
Marly de Oliveira penetrou em um novo campo lírico e por isso os poemas desta Invocação de Orpheu não possuem a unidade qualitativa dos poemas de livros anteriores, com hesitações compreensíveis na utilização de um novo isntrumento expressivo. Além dos versos melhores, de reminiscências amplamente elogiosas de leituras de Petrarca e de Cecília Meireles, sem que com isso a autora minimamente se reduza de categoria, fica a constatação de quem tateia por uma via nova mas ainda incerta. A singularidade de sua posição na poesia brasileira moderna, contudo, continua preservada e à espera de que seu canto amadureça ness nova expressão recém-conquistada.
[a parte restante do artigo dedicada a Carlos Nejar está publicada no capítulo desta coletânea dedicado a esse poeta]
Mero exercício num brilhante trajeto lírico
Jornal da Tarde 1986
Sendo extremamente rara, no Brasil, a cisão entre amizade e criação, o crítico para exercer seu papel com justiça não deveria, por definição, ter amigos ou amigas que escrevessem. Pois, se todos são gênios, qualquer reparo à sua obra acarreta um rompimento doloroso de relações, uma reversão de afetos e outros purgatórios terrenos que a nossa falta de civilização ainda produz em abundância.
Não creio, sinceramente, que seja o caso da poetisa Marly de Oliveira, que há mais de vinte anos vem criando, com Mário Chamie e Carlos Nejar a melhor poesia brasileira de sua geração. Por isso, não há como hesitar em considerar Retrato, seu livro de poemas mais recente (Editora Francisco Alves), desigual, inseguro, apressado. Nos livros anteriores Marly de Oliveira vinha traçando um caminho e reflexão poética singular sobre o inapreensível da Beleza em Explicação de Narciso, de elegíaca constatação da incomunicabilidade entre quaisquer seres humanos, em Contato, assim como em volumes anteriores aludira aos temas clássicos da poesia em termos clássicos, herdados dos grandes poetas da Antiguidade grega e romana e também dos supremos líricos italianos, Dante, Leopardi, e espanhóis, Quevedo, Góngora, passando pelos clássicos portugueses, Camões, Sá de Miranda. Os temas que mais curiosidade lhe causavam era a fugacidade de tudo, o poder dos deuses distantes sobre nossos destinos e desatinos humanos, o ceticismo quanto a uma salvação cristã, deixada de lado pelo culto do instante presente, embora efêmero, pelo paganismo da celebração de Eros e da Physis, isto é, do amor e da natureza.
Não que este Retrato não apresente versos memoráveis, no decurso de uma leitura atenta:
“Passagem do ano: reflito, sozinha,
sobre a condiçção
que nos impõem os deuses,
de não durar mais que o tempo
de temer e esperar.”
Ou a perfeição das linhas complezas e profundas que dissem:
“Já não estou tão certa
de que se chegue só por extravio ao que descerrado embora
permanece inatingível
no périplo do amor
- nem sempre escuro.”
“Mas acho ainda
que a fria, ardente,
luminosa treva é o prêmio
daquelo que nos vem sem ser buscado,
daquilo que se entrega em vivo fogo
e não se espalha no ar;
do sim que é dado a esse fluir
sem esperança e grato
a que desiste de tudo.”
Ou mesmo o breve poema belíssimo:
“Abro a Bíblia ao acaso e leio em Baruc:
aprende onde está a prudência,
onde está a virtude,
onde está a inteligência,
para saber ao mesmo tempo
onde estão
a estabilidade da vida e do sustento,
o lume dos olhos
e a paz.”
Infelizmente, porém, são ilhotas de poesia em meio a um dizer inusitado em Marly de Oliveira, pois não contém nem um pensar profundo, maduro, nem um estilo podado e de concisão ática. Roça o pieguismo inconsequente, por exemplo, o seguinte, em meio a tantos versos que lhe equivalem:
“Não é apenas uma sensação;
a vida é mesmo incompleta,
os muros são altos, as metas
inatingíveis sempre.
O jeito é deixar de lado
o coração e jogar-se no abismo
do estudo e da reflexão.
E não pensar em paixão,
encontro (e equivalente).
Bom mesmo é dar-nos as mãos.”
Citar o poema por inteiro não é melhor do que destacar trechos de outros poemas, como ao acaso: “Há coisas que é preciso repetir”; “Cada vez mais me convenço/ de que tudo o que pensamos/ já foi (alguma vez) pensado.”; “Quem hoje mais nos grandes centros/ tem eucaliptos em casa?” e, para não alongarmos a lista: “Dolce e chiara è la notte (que a revisão transformou num enigmático à (?)/ e sensa vento, coisa rara, convenhamos, em Brasília.” Nesse andar, será lícito no futuro confundir Leopardi, o supremo poeta romântico italiano, com um panfleto de turismo ou um livro de arte culinária, com perdão da hipótese vulgar.
Nem mesmo ao debruçar-se sobre os aflitivos problemas socias da imensa miséria brasileira - “o homem dormindo deitado sobre a calçada” - os resultados são menos satisfatórios: “O homem sequer tem um cão,/ uma espada, uma sapato, uma flor.” Não que se use o argumento chão, antipoético, da utilidade, mas sim o da banalidade das associações e seu sentimentalismo que não lhe permitem empreender um voo poético. Nem uma rápida ida a Portugal ajudo o astro da poetisa desta vez.
“Às margens do Mondego fui Inês,/ morri e fui rainha de um modo que só eu sei.”
Não seria honesto deter-nos apenas naqueles que nos parecem, salvo melhor juízo, ser os deslizes fundamentais deste Retrato. Marly de Oliveira não é o que vulgarmente se confunde com vontade de fazer poesia e impotência nacisística.
Marly de Oliveira já demonstrou em vários livros anteriores que pode fazer poesia e nao será por um livro menor, um mero exercício em seu brilhante trajeto lírico, que se poderá menosprezar o muito que seu nome e sua criação artística sensibilíssima já deram à literatura brasileira contemporânea.
A única coisa que me ocorre é a de, conhecendo o saudável senso de humor que Marly de Oliveira tem, mandar-lhe por via postal uma vigorosa tesoura de posa do excesso de ramagens e espinhos de seu usualmente delicado e conturbador jardim poético interior.
Reuso
Citação
@incollection{gilson ribeiro2021,
author = {Gilson Ribeiro, Leo},
editor = {Rey Puente, Fernando},
title = {A poesia deste livro inaugura nosso ano literário},
booktitle = {Poetas brasileiros contemporâneos},
series = {Textos Reunidos de Leo Gilson Ribeiro},
volume = {4},
date = {2022},
url = {https://www.leogilsonribeiro.com.br/volume-4/7-henriqueta-lisboa/02-a-poesia-deste-livro-inaugura-nosso-ano-literario.html},
doi = {10.5281/zenodo.8368806},
langid = {pt-BR},
abstract = {Jornal da Tarde, 1975-08-09. Aguardando revisão.}
}